Para ou continua?
By Unknown - 20:56:00
Hoje vou compartilhar com vocês algo extremamente particular... Espero que gostem!
Bom,
a história que vou contar se passa no século 16 no ano de 1599. Eu, Samantha, e
minha irmã mais nova, Sophia, morávamos em um orfanato só de meninas. Um
orfanato católico, onde a disciplina era à base de tudo. Sophia, uma menina de
12 anos, na época, sempre foi muito mais bonita do que eu, com seus olhos
verdes e cabelos negros, pele branca e de um corpo angelical... Destacava-se no
meio de todas as meninas. Nunca soube ao certo de que parte da Europa ela
vinha, mas de uma certeza eu tinha. Ela era tremendamente linda. Já eu, aos 14,
era gorda, seios fartos mais do que o normal e uma pele um pouco mais escura do
que a dela... Mas de uma coisa eu me orgulhava, olhos azuis e um cabelo cor de
mel, quase loiro. Sempre achei que os olhos são a janela da alma, os meus, eram
difíceis de decifrar, mas minha irmã os entendia como ninguém. Não éramos irmãs
de sangue, mas com toda certeza, éramos irmãs de alma.
Os
anos se passaram, e nos tornamos um problema para as freiras do orfanato. Só
aceitávamos se adotadas se fossemos juntas, caso contraria, ficaríamos lá, ate
achar alguém que quisesse nos levar ao mesmo tempo. Agora, Sophie com 15 e eu
com 17 já estávamos fartas de ficar lá, seguir regras, usar vestidos rodados e
saber tudo sobre etiqueta e disciplina. Queríamos viver o mundo lá fora,
conhecer a natureza e os prazeres da vida. Ambas, mais bonitas do que anos
atrás, sabíamos que sorte não iria nos faltar, já que a beleza, na época... Era
um ponto muito forte entre qualquer jovem.
Em
um dia chuvoso, lá para as oito da manha, dona margo me acorda... O que me
deixou extremamente nervosa, acordar cedo aos sábados, nunca foi o nosso
combinado.
-
Sr ª Samantha? Preciso falar com você.
-
mas a essa hora? Poxa... Só mais 10 minutos.
-
sr ª Samantha, a educação com os mais velhos é primordial.
Oras!
Mas nem dormir pode mais! Ninguém merece isso, quando irei ter minha liberdade,
quando?
-
estou indo dona margo, acorde Sophie.
-
a conversa será apenas entre mim e você, Srtª Samantha.
Ouvindo
essa informação, logo tratei de me aprontar... Coloquei um vestido, grande. Como
de costume. Rodado, azul bebe com detalhes brancos e uma rasteira de couro, na
cor preta.
Entramos
na sala de reunião, e lá estava um homem, aparentemente bem velho, de smoking
preto e sapatos incrivelmente lustrados. Ele usava um óculo marrom,
escorregando pelo nariz, e um cavanhaque. Era magro.
-
olá, mocinha.
Ele
me olhou e ergueu apenas uma sobrancelha, o tom de sua voz era irônico, seu
sorriso, também. Aquilo me causou arrepios.
-
é... Olá!
Dona
margo me interrompeu, antes que eu pudesse expressar tamanho nervosismo.
-
esse é o senhor Robert, veio aqui adotar você e sua irmã.
Adotar?
Meu deus! Não pode ser isso mesmo que estou ouvindo! Ate que enfim, olá mundo, olá
vida!
Mas
tudo que consegui dizer foi:
-
muito prazer, senhor. Meu nome é Samantha, gostaria que chamasse minha irmã
mais nova?
-
não, o assunto agora é com os mais velhos, linda menina.
Ele
disse, ironicamente, mais uma vez.
-
como queira.
Eu
disse ainda mais nervosa.
Depois
de algum tempo, se manifestou dona margo: bom, vou deixa-los a sós.
E
saiu, me deixando com vontade de pedir para ela ficar.
-
bom como a madre já pode lhe informar, meu nome é Robert Monaretto,
possivelmente, esse será seu sobrenome também. Gostaria de saber um pouco mais
sobre você, seus interesses, medos.
Medos...
Havia tantos, estavam na ponta da língua e ao mesmo tempo engasgados.
-
meu nome é Samantha, tenho 17 anos. Vivo aqui desde meu nascimento, mas sonho
em sair, confesso que não tenho personalidade própria, pois não tive
oportunidade suficiente para forma-la. Minha rotina é sempre a mesma, não vejo
o mundo lá fora, nunca vivi amores, não sei me virar sozinha sempre tive casa,
comida e roupa lavada.
-
prossiga.
-
pois bem, nem minha própria roupa eu lavo, não sei cozinhar... Mas sei ler,
bordar, cantar e fazer uma cama bem feita. Não tenho problemas com horários,
acordo todos os dias as seis da manha, as cinco, se for preciso. Responder quem
sou, é um pouco difícil, senhor... Mas uma coisa não me falta. Disciplina.
-
cara Samantha, gosto de sua sinceridade... Eu não esperava nem menos, nem mais.
Esta perfeita. Adoro saber que tem disciplina, pois é meu lema. Sem disciplina
com si mesma, não se conquista nada, nem sua personalidade.
-
correto, senhor.
Droga...
Claro que ele esta correto! Por que tive que dizer isso! Ele sabe! Droga...
-
em minha casa, eu não gosto de absolutamente nada fora do lugar, por isso, dei
preferencia em adotar duas meninas. Sou um homem velho, porem muito ocupado e
solitário. Minha esposa morreu, acharam que era bruxa, a queimaram na
fogueira... Mas ela apenas fazia remédios para tuberculose. Sabe menina, se não
fosse a morte dela, creio que muitas pessoas estariam salvas de certas doenças.
Minha mulher era um anjo, não uma bruxa.
-
tenho certeza que sim, senhor. Sinto muito pela sua perda, seria de imenso
prazer poder fazer companhia.
-
eu não quero companhia, Samantha. Eu quero filhas. Filhas que não pude ter
quando era mais jovem, filhas que posso ver crescer, educar e ensinar a serem
boas mulheres, independente da minha idade, compreende? Filhas que minha mulher
gostaria de ter, mas não pode.
-
compreendo perfeitamente, senhor.
Na
verdade não. Eu não compreendia, poxa vida, ele queria filhas que sua esposa
não pode ter, infelizmente, é claro. Mas o que ele esta pensando? Não é fácil
criar uma menina, quem dirá duas!
-
você me deve achar um louco, talvez eu seja mesmo. Mas pretendo ama-la,
respeita-la e te educar, como um verdadeiro pai. O pai, que talvez você nunca tivesse.
Aquelas
palavras me causaram lembranças, de coisas que nunca pude ter. Realmente, um
pai, eu nunca tive... Sempre sonhei com um, exatamente como o senhor Robert
citou... Quem sabe não daria certo, não é mesmo? Ele parecia ser um bom homem.
-
também darei o meu melhor, espero que goste de mim, senhor.
Apesar
da tristeza que me dominou depois daquelas palavras, apenas isso saiu de minha
boca, era melhor ir com calma, para não se decepcionar.
-
já gosto, linda menina.
-
fico grata, senhor.
-
bom, agora gostaria de saber um pouco mais sobre a mais nova.
-
como deve saber, ela não é minha irmã de sangue, mas isso definitivamente não
importa... Crescemos juntas, e espero que assim seja, ate o final. Sophia é
mais nova, porem muito inteligente, confesso que não é tão disciplinada quanto
eu, mas é muito objetiva e não deixa as coisas para depois, não aceita ajuda de
ninguém, o que tem que fazer, faz sozinha. É muito sincera, observadora e
responsável, só se perde um pouco na hora de agir, por conta da falta de
disciplina.
-
sincera? Quer dizer... Rebelde?
-
não senhor, ela sabe se colocar no lugar dela quando necessário, mas sempre tem
respostar na ponta da língua.
-
entendido. Então essa, colocarei na linha, mas fico feliz em saber da sua forte
personalidade.
-
sim senhor, creio que ela aprendera tudo muito rápido.
-
bom... Passaram no teste! Samantha Monaretto e Sophia Monaretto! Lindo nome não
acha?
Passamos
no teste! Ahhh, passamos! E se eu acho lindo? Claro que acho! Nunca se quer
tive a oportunidade de ter um sobrenome, isso não é só lindo, é maravilhoso!
-
lindos nomes, muito obrigada, de coração, fico imensamente grata.
Nessa
hora, não pude evitar, meus olhos encheram de lagrimas, lagrimas de felicidade.
-
não chore... Minha menina!
-
é lagrimas de felicidade, senhor.
-
sinta - se a vontade para me chamar de pai agora, apenas quero trocar meias
palavras com sua irmã, já a considero como filha também, mas sabe como são as
coisas... Quero apenas um pouco de intimidade antes que coloca-las dentro de
minha casa. Serei um pouco mais duro com ela, já que a menina é de
personalidade tão forte.
Chama
- lo de pai? Que honra... Terei alguém para chamar de pai! Isso por si já é
maravilhoso, ainda mais esse homem... Inteligente, culto e incrível!
-
é... Claro, não tiro sua razão, irei chama-la.
Depois
de entrar no quarto, Sophia já estava aflita e ansiosa, já imaginava que também
iria ser chamada... Então eu a indiquei a sala de reuniões.
-
boa noite, sr Robert, é um prazer conhece-lo.
-
igualmente, Sophia, sente-se, por favor.
-
sua irmã de disse um pouco sobre você...
-
confesso que tenho um pouco de medo de saber o que ela disse, mas estou
confiante de que posso surpreender.
-
que bom ouvir isso, realmente, ela disse que tem personalidade forte e é um
pouco... Teimosa... Mas presumo que não teremos problemas, correto?
-
sim, senhor.
-
que ótimo... Bom, acredito que Samantha ira lhe contar tudo que disse a ela,
pois pelo que vi são bem unidas... Tenho certeza que ela não deixara passa
batido nenhuma informação.
-
creio que sim...
-
você parece quieta, Sophia. Conte - me um pouco sobre você! O que espera da sua
nova casa, e do seu novo... Pai?
Novo
pai... Casa... caramba! Tecnicamente, não seria novo, afinal... Nunca tive.
Seria o primeiro, primeiro e único... É! Isso ai! Vida nova.
-
na verdade... Eu não deveria ter expectativa nenhuma, senhor, mas todos esses
anos eu e Samantha sonhamos com uma casa, um pai... Uma mãe... E tudo isso a
cada dia que se passou foi crescendo dentro de mim, era uma tortura, não ter
ninguém para poder chamar de ''família'' entende? Quero dizer... Samantha e as
madres são minha família, mas nunca pude sentir aquele total afeto das pessoas
dentro desse orfanato, afinal, está aqui para receber a base e cumprir ordens.
-
então isso quer dizer que espera algo, certo?
-
sim senhor, apesar da personalidade forte, que com certeza já ouviu falar... Prezo
pela humildade, com a casa, pouco me importo, apenas quero um lar, e a quem eu
possa chamar de família.
-
é com tristeza que lhe digo que uma mãe não poderei lhe dar, minha esposa
faleceu faz alguns anos, mas tentarei cumprir com o papel dos dois, da melhor
forma possível.
-
sinto pela sua perda... Mas tenho certeza que cumprira o papel muito bem.
-
que assim seja, Sophia.
-
amem.
-
bom, sei que é jovem e que preza pela sua liberdade, mas sabe como são os
velhos... Ranzinzas e maus humorados. Gosto da minha casa, é velha também, mas
muito bem conservada, tenho uma empregada de confiança, Elizabeth, ela cumpre
seu papel de tal maneira que ninguém faria, o chão é encerado, os talheres
brilham, e os moveis... Nem um pó se quer gosto da casa assim, e que assim
continue.
-
sim senhor, irei conter minha desorganização.
-
ótimo, então acho que podemos ir.
-
é... Na verdade eu e minha irmã não esperávamos por isso, assim... Tão rápido. Será
que poderíamos nos despedir dos moradores daqui e arrumar nossas coisas?
-
claro, não tenham pressa, mas não se preocupem, iram vir visita-los assim que
quiserem.
-
fico muito grata! Poderia nos esperar aqui?
-
como queira, não sairei daqui, fique tranquila.
Fui
direto ao encontro de Samantha... Abraçamo-nos! Finalmente, finalmente! Um lar,
uma família! Fomos à capela e rezamos para que tudo corresse bem, nos
despedimos de nossas colegas, Virginia, deu para cada uma de nos, um colar
feito de palha, com um pingente de pedra branca, guardaremos com amor... Virginia
nos apoiou nos momentos mais difíceis dentro do orfanato.
Margo
nos abraçou... Foi o abraço em trio mais gostoso de toda minha vida, nos
choramos, saberíamos que mais cedo ou mais tarde a saudade iria apertas, margo
foi como uma mãe para nós duas... Apesar das broncas que ela sempre me dava,
sei que foi ela quem me fez se tornar quem sou hoje.
Margo
chama Samantha de canto e diz...
-
cuide bem da sua irmã, não deixe que ela perca o juízo qualquer que seja a
situação.
-
claro madre! Farei o que a senhora desejar.
-
e faça o que seu coração mandar, minha menina, mas nunca perca a razão, as duas
caminham juntas em um trilho... Cabe a você saber a hora de usar cada uma.
Guardei
as palavras de madre margo, na minha mente em e meu coração, passarei para Sophia,
mas quando for à hora certa.
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