Hoje, pela primeira vez, me imaginei feliz sem um dos meus maiores sonhos. Simplesmente me senti completa e cheia de mim.
Você deve estar se perguntando qual meu sonho. Mas, calma. Logo te direi...talvez nem precise.
Me imaginei em meu apartamento, com o carpete de madeira refletindo parte da meia luz que ilumina minha sala de estar. Estou sentada lendo um livro, na minha frente a televisão ligada em um programa que mostra casas em reforma que eu sempre gostei de assistir e me inspirar... o volume está baixo, quase imperceptível já que estou concentrada na minha leve leitura que me distancia um pouco da realidade meio cinzenta da vida adulta.
Sozinha... e pela primeira vez não me importo com a solidão e nem com o barulho dos outros moradores chamando o elevador ou descendo e subindo as escadas. Mas por um instante eu coloque meu livro aberto sobre as pernas, dei uma golada no meu café - já gelado- e pensei que podia ter alguém comigo ali.
Mas minha dúvida não era em colocar dentro do meu cantinho alguém que fosse opinar sobre as luzes indiretas ou sugerir uma mudança de tons nas paredes do escritório. A real questão era se eu gostaria de um gato, um cachorro ou se era a hora de ter uma cópia minha pra eu encher de histórias, beijos e conselhos.
Ah, mas para isso eu precisaria de um pai. Ou não? Sabe que nunca parei pra pensar se permitem certidões de nascimento com uma mãezona que vale por pai também... Seria permitido isso?
Até pensei em dar um google na informação, mas logo percebi que em algum momento eu teria que explicar o porquê do meu provável egoísmo de viver sozinha com elx e não com aquele titio legal que mora longe e sempre nos visita no verão. Também pensei que poderia ser complicado se meu bebê não tivesse a oportunidade de falar papai pela primeira vez, mas de pois de mamãe, é claro.
Não que haja algum problema em ser mãe só, mas não me senti preparada para isso. Suspirei, pisquei lentamente, foquei por uns segundos na tela da televisão e fechei meu livro.
Continuei meu café frio e depois de ver o fundo meio marrom da minha caneca, decidi fazer um pouco mais. Aproveitei e peguei o pratinho em que comi algumas bolachas e levei para cozinha. Lavei o prato e a caneca. Coloquei a água para ferver naquela minha chaleira que faz barulho que estou usando pela primeira vez.
Decidi comprar esse modelo que faz barulho porquê desde sempre esqueço que coloquei a água pra esquentar e só me lembro quando ela ja ferveu ao ponto de cair todinha para fora.
Enquanto a água fervia, passe pelo espelho do lavabo, molhei as mãos e passei pelo rosto. Escovei meu cabelo que estava úmido depois que tirei a toalha enrolada nele e ao terminar ajeitei. Me encarei no espelho e repeti comigo o meu mantra: "Você não precisa dele ao seu lado pra se sentir realizada, olha só pra tudo o que conquistou... as vezes os sonhos se transformam".
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